Alguns lugares te conquistam, outros mexem de verdade com você. Te deixam completamente apaixonados, com aquele sentimento gostoso de gratidão por estar ali. Brinco que quando um hotel desperta na gente a vontade de trazer toda a nossa família para conhecê-lo, é porque realmente é singular. E foi assim com o São Lourenço do Barrocal, uma propriedade rural no Alentejo, um dos destinos mais especiais de Portugal.
Ao som de andorinhas, caminhamos por uma passarela de pedras, cercada por edifícios brancos com suas portinhas azuis, como se fosse a via principal de uma cidadezinha (e era isso mesmo: uma aldeia agrícola do século XIX, em pleno funcionamento e autossuficiente). Cheiro de mato, de bicho, de flores, das vinhas e dos olivais. A sensação é de que fomos transportados para um outro lugar no tempo, mas estamos a menos de 2 horas de carro de Lisboa.
A fazenda, ou “herdade”, como dizem os portugueses, tem mais de 780 hectares (você não leu errado: são 7.8 milhões de m²), o que levaria pelo menos umas 6 horas para percorrê-la toda a pé. O vilarejo agrícola (chamado em Portugal de “Monte”), onde estão os quartos, spa, restaurante e outras comodidades do hotel, é apenas uma parte do grandioso empreendimento do São Lourenço do Barrocal, que inclui até mesmo um projeto residencial.
É entre árvores centenárias, rochas, vinhedos, olivais, flores, horta, lagos, piscinas, cavalos, aves e muita história que você passará seus dias nesse hotel de luxo despretensioso, parte do portfólio da Small Luxury Hotels of The World. O São Lourenço do Barrocal nos mostra que menos é mais quando vem carregado de pureza e autenticidade.
/// HISTÓRIA
O nome do hotel já vem cheio de história: barrocais são essas gigantescas rochas graníticas espalhadas por toda a fazenda, que estão ali desde a época megalítica. Inclusive, dentro da propriedade há menires (monumentos pré-históricos de pedra) com 7.000 anos!
No século XIX, a fazenda e se tornou uma aldeia agrícola (monte alentejano), praticamente autossuficiente. 50 famílias viviam ali dentro e cultivavam cereais, legumes, faziam seu próprio vinho, azeite, queijos e criavam gado. Caminhando hoje pelo hotel você consegue imaginar como tudo aquilo foi um dia (o projeto arquitetônico preservou o passado): praça de touros, casinhas, estábulos, canil, galinheiro, pombal…
A fazenda pertence à mesma família há mais de 200 anos e José Antonio Uva (8ª geração), visionário – e apaixonado – estava determinado a reconstruir a propriedade, sendo fiel à sua história, porém modernizando-a (criando um hotel de luxo, um spa, uma vinícola e um projeto residencial). Assim, mais pessoas poderiam sentir um pouquinho do que era estar em um vilarejo rural.
O mais interessante é que o projeto arquitetônico, de Eduardo Souto de Moura, respeitou o passado de uma maneira belíssima. Claro que antigas casas de famílias foram convertidas em salas de tratamento do spa, o estábulo virou um restaurante, e por aí vai (afinal, estamos falando da construção de um hotel), mas as características originais foram preservadas, sem adicionar novos elementos em excesso. Muitos dos materiais usados na reconstrução foram os mesmos, como tijolos feitos manualmente em olarias locais. Demorou 14 anos até que fosse inaugurado, em março de 2017.
/// LOCALIZAÇÃO
O Alentejo é a maior região de Portugal e uma das menos povoadas da Europa. Ela vai da costa marítima até a fronteira com a Espanha. Mas apesar de sua imensidão, o tempo parece não ter passado nessa terra de paisagens e tradições bem preservadas. Vilarejos medievais, com casinhas pintadas de branco, vinhas e olivais. Sossego talvez seja a melhor palavra para definir esse destino.
Se você já ouviu falar em Alentejo, provavelmente sabe da fama de seus vinhos, considerados hoje os melhores de Portugal (eu também amei os vinhos do Douro e não tenho conhecimento o suficiente para compará-los). São 22 mil hectares de vinhedos plantados, produzindo cerca de 88 milhões de litros de vinho. Portanto, esse é um destino, sem dúvidas, para visitar várias vinícolas (além do próprio hotel, que também é uma).
Évora, uma cidade medieval muito conservada, é a mais conhecida da região, e fica a 45 minutos do São Lourenço do Barrocal. Estremoz e Vila Viçosa também estão nas redondezas. A localização do hotel é bem ao leste de Portugal, a poucos quilômetros da fronteira espanhola, pertinho de uma das cidades portuguesas mais lindas que conheci, Monsaraz.
Monsaraz é puro charme: uma cidade amuralhada no alto de uma colina (“o Alentejo perto do céu”), com um castelo, ruas estreitas de pedras e casas branquinhas, onde a vida real acontece (parece Óbidos, só que com muito menos turistas). Monsaraz fica tão pertinho do hotel que a vemos até da janela do quarto (10 minutos). Ao lado de Monsaraz também está o grande Lago Alqueva.
Para ir de Lisboa (aeroporto mais próximo) ao São Lourenço do Barrocal são apenas 2 horas de carro (180km).
/// ACOMODAÇÕES
Simplicidade em todos os detalhes. É luxo sim (pelo bom gosto e pela qualidade dos materiais, como roupa de cama de algodão egípcio e travesseiros e edredom de plumas), mas sem nenhum sinal de ostentação.
São 40 alojamentos, divididos em quartos (2 pessoas), suítes (2 pessoas) e casas de 1, 2 ou 3 quartos (para até 6 pessoas). Bebês e crianças até 4 anos podem ficar (em berço) sem custo adicional em qualquer tipo de acomodação. Mas a partir dessa idade, a família precisa escolher uma casa com pelo menos dois quartos (não colocam cama extra – que pena! Acho que até uns 8 anos é muito novo pra precisar de um quarto a mais, né?!).
Todos os tipos de acomodação são espaçosos e têm o mesmo estilo de decoração: piso de tijolos de terracota (produzidos manualmente em olarias da região), móveis em madeira natural, mantas em lã colorida, poucos elementos e cores suaves. Fotografias e objetos antigos enfeitam as paredes. Bem aconchegante, bucólico e acolhedor.
Já os banheiros passam uma certa frieza (ou apenas “neutralidade”). São totalmente brancos (louça e revestimentos), à parte do piso, que segue o mesmo terracota do quarto. Em algumas acomodações, a ducha fica sobre a banheira e em outras, estão separadas.
Adorei as amenidades de banho Herbal Treats by Susanne Kaufmann (marca austríaca de cosméticos naturais). O secador é ótimo (foooorte – nem se preocupe em levar o seu!), os roupões e pantufas são muito fofinhos e o banheiro tem até uma balança (que eu nem cheguei perto – vocês entenderão abaixo, quando contarei sobre a gastronomia do Alentejo! hehehe).
Nos hospedamos em uma casa de dois andares com 2 quartos. Amei a sala de estar com lareira e a cozinha equipada com eletrodomésticos Gaggenau e Smeg (geladeira retrô super estilosa), chaleira e máquina Nespresso.
Visitei alguns tipos de acomodação e os que mais amei foram os quartos e suítes que dão acesso ao belíssimo espelho d’água.
/// GASTRONOMIA
Já que a ideia é imergir o hóspede na cultura e história do Alentejo, a gastronomia também precisa ser local (e original). O restaurante principal, aberto também a não hóspedes (reserve!), privilegia as iguarias alentejanas. O menu é totalmente farm to table (quase todos os ingredientes são produzidos localmente, na horta orgânica, ou comprados de pequenos produtores vizinhos), privilegiando produtos sazonais.
O pão é a grande estrela da culinária do Alentejo. As bochechas de porco preto, prato super típico, são simplesmente deliciosas. Gostei tanto que comi 3 vezes em 3 dias. As migas (pães, servidos puros ou com algum sabor, como tomate) e o pudim de azeite (sobremesa) também são tradicionais. Claro que azeitonas e pãezinhos molhados em muito azeite produzido no próprio São Lourenço do Barrocal, não podem ficar de fora da sua refeição. Pratos principais custam, em média, 22 euros.
É nesse mesmo restaurante, com decoração intimista e aconchegante (amei a estante com objetos antigos, encontrados durante a restauração da fazenda), que é servido café da manhã, almoço e jantar. Aliás, o café da manhã (buffet + pratos quentes à la carte) é delicioso. O mel em favo e o presunto cru são os destaques.
*Há um menu especial para crianças, com massas, carnes, legumes e verduras 😉
Durante os meses mais quentes (de meados da primavera até o outono), está aberto para o jantar um segundo restaurante, chamado Hortelão. Localização agradabilíssima, ao lado da piscina e da horta. Um menu simples, composto de carnes, peixes e legumes fresquinhos, tudo preparado na grelha. Aos sábados há musica jazz ao vivo. Imagina que delícia esse lugar? Pena que ainda não estava aberto quando fui.
Além das refeições nos dois restaurante, o hotel é expert em organizar experiências especiais. Vivenciamos duas: um almoço charmosíssimo no jardim do hotel, com degustação dos vinhos da casa (foi tão lindo que pareceu até cena de editorial) e um piquenique no antigo forno de pão.
Os piqueniques podem ser realizado em qualquer cantinho da propriedade, basta você encomendar a sua cesta, com refeições leves como sanduíches e quiches, sucos e vinhos, e levar para o lugar em que gostar mais.
O hotel também pode recomendar ótimos restaurantes nas proximidades, como o simples e simpático Sabores de Monsaraz, da Dona Isabel (campeão de recomendações dos meus seguidores!).
/// INFRAESTRUTURA
O hotel conta com um SPA by Susanne Kaufmann, marca austríaca de cosméticos orgânicos. Não a conhecia antes da viagem, mas adorei os produtos (estão disponíveis para compra). O SPA está instalado em um antigo “complexo de apartamentos” dos trabalhadores que viviam nessa aldeia rural no passado. Ao ver o longo corredor com suas portinhas (que hoje são as salas de tratamento, muito espaçosas por sinal – nunca vi salas tão grandes para apenas uma maca de massagem) você terá uma ideia de como era o lugar antes de se tornar um hotel. Cheirinho de lavanda no ar.
Fiz uma massagem de 1h com óleo aromático que custa 98 euros. Há drenagem linfática, esfoliação corporal, tratamentos faciais, detox e até mesmo massagens específicas para crianças e adolescentes!
Nessa mesma área do spa, além das salas de tratamento, encontra-se também uma sauna seca (individuais para homens e mulheres), um ofurô e uma academia, dividida em estúdio (com bolas, elásticos e pesos) e sala de equipamentos (Life Fitness).
O hotel conta com duas piscinas externas, sendo uma delas rasinha, perfeita para crianças. Estão construídas no local que foi um aqueduto que levava água para a aldeia, ao lado de um enorme barrocal. Imagino que no calor, as piscinas de água fria (não há aquecimento) sejam como um oásis para os hóspedes (no verão, a temperatura costuma ultrapassar os 30ºC durante o dia), mas quando fui, na primavera (termômetros a 20ºC), só consegui um rápido “tchibum”.
A loja do hotel também é uma graça. Não deixe de comprar o azeite e os vinhos produzidos lá.
Para os que desejam realizar um evento (corporativo ou até mesmo um casamento), o hotel conta com um belo salão, antigo lagar de azeite, com 120m² e um terraço ao ar livre de 110m².
Também é possível escolher a antiga arena de touros ou o colmeal (local onde se criava abelhas para produção de mel e que hoje é um lindo espaço ao ar livre, ótimo para observação de estrelas – o Alentejo tem um dos céus mais limpos do planeta, Reserva Dark Sky Alqueva). Eu fiquei até imaginando as luzinhas acesas no pôr do sol, a noiva chegando… Lindo!
Nesses espaços, também é possível realizar workshops. Nós fizemos um de coquetéis autorais.
/// ATIVIDADES
Acredite, apesar do bucolismo, seus dias no São Lourenço do Barrocal não serão monótonos.
Dentro dos muros do hotel, você pode fazer passeios de bicicleta (o hotel disponibiliza as bikes para os hóspedes. Tem até bike de criança e com cadeirinha de bebê), passeios a cavalo, passeios de BALÃO, visitas arqueológicas, degustação de vinhos (como comentei, o hotel também é uma vinícola e produz vinhos maravilhooosos – trouxe um pra casa, óbvio!) e observação de estrelas. E tem também o SPA e as infinitas possibilidades de piquenique, que já comentei acima.
Fora do hotel, você pode fazer um day-tour ao charmosíssimo vilarejo amuralhado de Monsaraz (aquele que fica em cima da colina, apelidado de “o Alentejo perto do céu” ♥). É possível ir, inclusive, de bicicleta (haja pernas!) ou a cavalo, para assistir ao pôr do sol lá de cima, no Lago Alqueva.
A região (São Pedro do Corval) também é muito famosa pela cerâmica. Que tal então uma oficina de olaria? Nós tivemos uma aula incrível na Olaria Bulhão (empresa familiar com os donos mais fofos do universo. O vovô professor era demais!) e até colocamos a mão no barro! Total Ghost feelings. Se a sua peça ficar feia como a minha (não levo jeito, mas amei a experiência), você pode levar para casa várias coisinhas lindas, como xícaras, bowls e pratos feitos lá.
Também é possível conhecer as cidades de Estremoz e seu castelo, Vila Viçosa e o Palácio Ducal, Évora e muitas das vinícolas do Alentejo.
Nós visitamos a Quinta Dona Maria, que é lindíssima (edifícios, capela e jardins). Além de conhecer a produção (adorei ver os vinhos sendo engarrafados! Nunca tinha chegado nessa etapa em uma visita), fizemos uma prova. O rosé dessa Quinta foi um dos melhores que já tomei (fresquinho, frutado). A Esporão, famosa no Brasil pelos vinhos e azeite, é vizinha do hotel. Vale a pena também uma visita.
/// KIDS & PET FRIENDLY
Adoro quando hotéis charmosos assim recebem bebês e crianças e ainda conseguem manter um ambiente muito tranquilo (tenho descoberto vários hotéis românticos que não são adults only!). E o S.L. Barrocal aceita até mesmo pets (até 15kg)!
Se você procura um hotel com uma super infraestrutura kids, este não é o caso (e nem é o que você normalmente encontrará aqui no blog), mas há uma sala com livros e brinquedos e várias atividades que podem interessar aos pequenos, como passeios a cavalo, bicicleta, piqueniques, observação de estrelas, caça ao tesouro etc. Eu estou doida para voltar com o meu baby Vinicius.
Como comentei acima, em “acomodações”, bebês e crianças de até 4 anos podem se hospedar sem custo adicional (são acomodadas em um berço no quarto dos adultos). Mas a partir dessa idade, a família precisa optar por uma acomodação maior, com pelo menos dois quartos, pois o hotel não disponibiliza cama extra.
/// POR QUE ESCOLHER O SÃO LOURENÇO DO BARROCAL?
O título dessa matéria, “para sentir o tempo passar mais devagar”, já traz um dos motivos para escolher este hotel. Mas vai muito além disso.
Escolher o São Lourenço do Barrocal é querer se aprofundar nas raízes do Alentejo e experimentar uma vida rural, longe dos problemas e dos ruídos da cidade grande (aqui, apenas sons de andorinhas… Que tal?).
É escolher conforto (claro, você será mimado – e muito!), sossego e relaxamento. Comida de verdade (saborosa, orgânica e tradicional), excelentes vinhos, pessoas amáveis e uma paisagem belíssima e cheia de história. Voltaria mil vezes (quem sabe até para fazer uma renovação de votos e levar família e amigos. O São Lourenço do Barrocal é um dos lugares mais bonitos que conheci para um destination wedding!).
Amei, me emocionei e recomendo a vocês viverem essa experiência!
Por Lala Rebelo
[Viagem realizada à convite da TL Portfolio, que tem o São Lourenço do Barrocal como um de seus fabulosos clientes. A Ju Monte Travel Designer foi a agência que apoiou a minha participação nessa press trip, custeando o aéreo. Se precisar de ajuda para organizar a sua viagem, fale com ela!]
Reserve aqui a sua estadia.
Diárias a partir de 300 euros.
Vai viajar para Portugal? Leia também:
- Guia de Portugal – Roteiro completo
(com informações de outras cidades e regiões, como Porto, Algarve e Lisboa, clima/melhor época para ir, voos, aluguel de carro, passeios, restaurantes e muito mais)
Se você for combinar o Alentejo com outros destinos portugueses, temos guias completos de Lisboa, Algarve, Porto e Vale do Rio Douro.
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